Washington, EUA — Em um momento de crescente tensão econômica e instabilidade nos mercados globais, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu os primeiros sinais públicos de possível recuo na guerra comercial com a China.
A declaração foi feita após fortes críticas à política tarifária americana, que tem provocado reações negativas em cadeias produtivas e no setor financeiro mundial.
A movimentação de Trump ocorre logo após o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgar uma nova previsão de crescimento econômico global para 2025, revisada para 2,8%, uma queda de 0,5 ponto percentual.
Segundo o FMI, essa retração está diretamente ligada à incerteza gerada pelas disputas comerciais, especialmente entre as duas maiores potências do planeta. O fundo também prevê uma desaceleração da economia americana, com crescimento limitado a 1,8% e inflação persistente.
Mesmo sob pressão, o governo Trump havia anunciado nesta terça-feira tarifas de até 3.521% sobre equipamentos de energia solar vindos de quatro países do Sudeste Asiático — Vietnã, Camboja, Malásia e Tailândia — uma ação vista por analistas como um esforço para conter a expansão industrial chinesa por meio de países aliados.
Apesar disso, o secretário do Tesouro da época, Scott Bessent, admitiu publicamente que as tarifas contra a China são "insustentáveis" e sinalizou expectativa por uma trégua no conflito comercial, embora tenha afirmado que as negociações com Pequim ainda não haviam começado.
O impacto no mercado financeiro foi imediato: o dólar atingiu seu menor valor frente a outras seis moedas globais em três anos, com queda acumulada de 5,5% desde o início do mandato de Trump. O índice Dow Jones, por sua vez, caiu 9,1% nas primeiras semanas de abril — o pior desempenho em quase um século.
Para especialistas como Marcello Estevão, ex-presidente do Banco dos BRICS e economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), o efeito da guerra tarifária deve ser mais danoso aos EUA no médio e longo prazo, dada a dependência de insumos chineses e a inflação gerada pelo encarecimento de produtos.
Segundo ele, “a China tem mais instrumentos para administrar choques econômicos, incluindo o domínio de insumos estratégicos como minerais raros”.
A incerteza criada pela escalada tarifária já está afetando a confiança de investidores, tanto nos EUA quanto em países emergentes como o Brasil, onde o cenário fiscal frágil agrava ainda mais a percepção de risco.
O FMI destacou ainda que o mundo caminha para uma fase de “curto-prazismo” nas decisões políticas e econômicas, dificultando previsões e exigindo maior prudência dos bancos centrais, especialmente diante da possibilidade de uma recessão branda nos EUA no segundo semestre de 2025.
Fonte: CNN Brasil
Análise com Thais Herédia, Lourival Sant’Anna, Daniel Rittner e Marcello Estevão
Reportagem de Mariana Janjacomo