Frelimo não largará o poder: um partido moldado para governar indefinidamente

Lourenço do Rosário afirma que Frelimo não está pronta para partilhar o poder

Maputo, 7 de Abril de 2025 – O académico Lourenço do Rosário considera que a Frelimo ainda não está preparada para abdicar do poder nem para partilhar a governação. 

A declaração foi feita em entrevista ao jornal Ponto por Ponto, onde o académico analisou o actual cenário político moçambicano, à luz do discurso de inclusão proferido pelo Presidente da República, Daniel Chapo, durante a sua investidura.

Ex-mediador não oficial entre a Renamo e o Governo, Lourenço do Rosário afirmou que o partido no poder continua a mostrar resistência à partilha de responsabilidades governativas, contrariando a retórica de reconciliação e abertura veiculada por líderes do executivo.

Questionado sobre os 50 anos da independência de Moçambique, o académico explicou que a construção do Estado moçambicano está intimamente ligada à luta armada pela libertação, o que, segundo ele, influenciou a formação das instituições e dos actores políticos.

“O movimento de libertação transformou-se rapidamente em força governativa, sem o devido tempo para desenvolver uma cultura democrática”, afirmou, acrescentando que o sistema resultante tem revelado pouca abertura ao pluralismo político.

Na sua análise, o domínio da Frelimo sobre os principais sectores da vida nacional dificultou o surgimento de alternativas políticas sólidas. “Há quem diga que o partido confundiu o Estado com ele próprio”, comentou.

Sobre os processos eleitorais frequentemente marcados por tensão pós-eleitoral, Lourenço do Rosário recorreu a uma citação do primeiro Presidente da República, Samora Machel: “O crocodilo mata-se quando é pequeno; se crescer, torna-se perigoso”. 

A frase, segundo o académico, serve de metáfora para práticas autoritárias enraizadas que, ao não serem combatidas desde cedo, tornam-se difíceis de eliminar.

Lourenço do Rosário conclui que a ausência de uma cultura democrática sólida tem permitido a consolidação de mecanismos de exclusão, que comprometem o futuro democrático de Moçambique.

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