
Uma
investigação da Polícia Federal revelou um esquema surpreendente: traficantes
ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC) ocupavam cargos no consulado
honorário de Moçambique em Belo Horizonte.
O objectivo
era facilitar operações do grupo criminoso e até planejar a libertação de um
dos principais integrantes da facção.
Base do PCC na África e plano de resgate
Moçambique,
país da África Oriental, tem sido alvo da expansão do tráfico internacional de
drogas. Em 2020, Gilberto Aparecido dos Santos, conhecido como
"Fuminho", um dos principais nomes do PCC, foi preso no país após
passar 20 anos foragido. Actualmente, ele cumpre pena na Penitenciária Federal
de Brasília.
Durante a
investigação sobre o envio de drogas pelo Porto de Paranaguá (PR), a Polícia
Federal descobriu um plano para resgatar Fuminho e evitar sua extradição ao
Brasil. O esquema envolvia o pagamento de propina a autoridades moçambicanas.
Criminosos infiltrados no consulado
Quatro
suspeitos de ligação com o PCC foram identificados como ocupantes de cargos
dentro do consulado honorário de Moçambique em Belo Horizonte. Entre eles,
William Barile Agat, apontado como um dos chefes do tráfico de cocaína para a
Europa.
Em uma foto
obtida pela polícia, Barile aparece ao lado do então cônsul honorário Deusdet
Januário Gonçalves, brasileiro que chefiava o consulado. As investigações
indicam que, na antiga sede da repartição, havia um esquema de venda de
carteiras consulares para criminosos. A promessa era de que os documentos
garantiriam imunidade e protecção contra fiscalizações.
Propina milionária e tráfico internacional
Conversas
interceptadas mostram que Barile, sob o codinome "Sena", ofereceu US$
1 milhão para que Deusdet ajudasse na libertação de Fuminho. O plano incluía
levá-lo para os Bálcãs, região fortemente impactada pelo tráfico internacional
de drogas e sede de organizações criminosas globais.
No entanto,
antes que o resgate pudesse ser concretizado, Fuminho foi extraditado para o
Brasil, frustrando a tentativa do PCC.
Posicionamento das autoridades
Deusdet
Januário Gonçalves afirmou ter deixado o consulado de Moçambique em 2019 e
negou envolvimento com o esquema. Segundo ele, os suspeitos foram contratados a
pedido da Embaixada de Moçambique.
A Embaixada
de Moçambique em Brasília foi procurada, mas não respondeu aos contactos da
reportagem. A Polícia Federal segue investigando possíveis ramificações do
grupo criminoso em território internacional.