
Polícia Angolana reprime manifestação contra a fome e o desemprego com gás lacrimogéneo em Luanda
Por O Mártir das Letras |Jornal Ao Minuto
A cidade de Luanda foi palco, neste sábado, de uma manifestação brutalmente reprimida pela polícia angolana, que usou gás lacrimogéneo e várias detenções efetuosas para dispersar mais de 50 ativistas que se reuniram contra o elevado custo de vida, a fome e o desemprego no país.
A concentração teve início na manhã de 16 de fevereiro de 2025, no Largo do Mercado de São Paulo, local onde estava previsto o início da marcha rumo ao Largo da Maianga. No entanto, antes mesmo do início do protesto, a polícia nacional já havia cercado o local, com quatro patrulhas posicionadas estrategicamente.
“Eles começaram por nos ameaçar, agrediram alguns companheiros e prenderam cerca de dez ativistas no local”, contou Pascoal Figueira, um dos participantes, à agência Lusa.
Entre os detidos está Serrote José de Oliveira, conhecido como “General Nila” , líder da Unidade Nacional para a Revolução Total em Angola (UNTRA) e principal organizador da manifestação. Segundo relatos, Nila tentou dialogar com os agentes, mas foi rapidamente conduzida sob custódia.
Repressão e silêncio oficial
Para dispersar a população, as forças de segurança recorreram ao lançamento de bombas de gás lacrimogêneo e disparos, provocando pânico entre os manifestantes e moradores da área. Manuel Cole, outro ativista presente, relatou que escapou da agressão policial, refugiando-se no bairro Sambizanga após uma intervenção violenta.
“Os nossos companheiros foram levados e, até agora, ninguém sabe onde estão. Isso é assustador, porque não se trata apenas de reprimir um protesto, é uma tentativa de nos silenciar pelo medo”, afirmou Cole, visivelmente abalado.
A UNTRA havia comunicado anteriormente a realização da marcha às autoridades, com o objetivo de pressão do governo para reduzir o custo da cesta básica, criar oportunidades de emprego e melhorar as condições de vida da população.
Clamor por justiça e respeito democrático
A presença no Mercado Policial de São Paulo ocorre intensa, mesmo após a dispersão do protesto, com agentes ocupando toda a extensão do largo. A tentativa da agência Lusa de obter um comentário oficial do Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional não teve sucesso, aumentando o clima de inquietação.
O que era para ser um apelo pacífico por dignidade transformou-se em mais um episódio de repressão violenta, reforçando as críticas à crescente intolerância do governo angolano frente às vozes que denunciam a crise social e económica que assola o país.